sexta-feira, 12 de outubro de 2012

IV

Os monstros saem à noite. 

Quando o sol vai embora e a lua estende seu manto sobre a cidade, os bichos saem. E bebem, e brigam, e fodem, como se isso fizesse alguma diferença no fim das contas. Tentam esquecer a própria mortalidade tentando ser mais, ou sobre os outros, ou usando dos outros. Correm atrás dos seus próprios rabos, ensandecidos, alcoolizados. 

Mas ela era paz. 

E no meio de toda aquela selvageria e caos, esses bichos solitários e inseguros correm, e correm, mas não fogem de si mesmos. Então, no auge da madrugada, finalmente se dão conta do absurdo. 

No fim da noite, os demônios vêm, e acabam com a farra dos monstros. Transformam bestas em coisas frágeis, patéticas, todos em busca de algo, ou alguém que proporcione algum conforto.

E choram, e correm, e morrem. 

Eis que o dia vem, e como uma mãe que vê um filho arteiro, cobre com sua luz os bichos. Frágeis, patéticos, perdidos. 

Humanos. 


Mas ela, ela tinha o hálito mais doce. 



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